Entre Nós – Uma Dose Extra de Amor parte de uma premissa que, em outros tempos, talvez fosse considerada ousada demais para o mainstream. Hoje, porém, reflete exatamente o tipo de experimentação narrativa que as comédias românticas contemporâneas vêm adotando: relacionamentos fluidos, afetos múltiplos e dilemas que extrapolam a velha fórmula “garoto conhece garota”. O filme abraça o caos emocional do século XXI e transforma sua história em uma mistura de humor, desconforto e, surpreendentemente, muita humanidade.
A trama acompanha Connor, Olivia e Jenny — três jovens que jamais imaginaram que uma noite impulsiva terminaria com duas gravidezes e um triângulo afetivo forçado pelas circunstâncias. A provocação inicial, criada para causar ciúmes, até poderia render apenas uma comédia de erros. Mas o longa decide ir além, explorando as consequências emocionais, familiares e sociais de uma situação que, ao mesmo tempo que soa absurda, conversa com temas reais da juventude atual: desejo por liberdade, medo de compromisso, relações líquidas e famílias que precisam se adaptar a novas formas de amar.
O trio de protagonistas ganha força justamente pela química entre os atores. O texto original indica personalidades distintas e complementares: Jonah Hauer-King como o rapaz inseguro que tenta controlar o que não entende; Zoey Deutch no papel da mulher que oscila entre o afeto e a autossabotagem; e Ruby Cruz como o elemento inesperado que, de repente, se vê no centro de uma história que não pediu para viver. Essa dinâmica promete momentos tanto de humor espontâneo quanto de vulnerabilidade sincera — uma combinação essencial para o gênero.
Ainda assim, a proposta carrega riscos. A escolha de iniciar o filme com um ménage pode dar a impressão de que ele depende do choque para seguir adiante. Porém, conforme o enredo evolui, o foco muda: o que interessa aqui não é a transgressão, e sim o impacto emocional que esse encontro provoca. As famílias dos três, envolvidas na confusão de modo inevitável, elevam o caos e ampliam o campo dramático. É nesse ponto que o longa encontra seu melhor equilíbrio entre comédia e drama.
Entre Nós – Uma Dose Extra de Amor parece caminhar para ser uma daquelas histórias que, apesar do cenário improvável, encontram verdade justamente na fragilidade dos personagens. Ao lidar com responsabilidade emocional, gravidez inesperada, inseguranças e laços que se formam de maneira torta, o filme mostra que o amor — nas suas formas mais desconcertantes — continua sendo um terreno fértil para boas narrativas.
Não é apenas uma comédia romântica moderna. É um retrato do embaralhamento afetivo de uma geração que tenta redefinir o que significa amar, se comprometer e construir algo juntos, mesmo quando tudo começa do jeito mais improvável possível.